Caros leitores,
Atualmente, participo de um projeto de mobilidade acadêmica em Portugal. Atuo como Professor Visitante no Instituto Politécnico de Bragança, no Norte do país.
Desde 2016, desenvolvo um projeto de pesquisa intitulado “Sistema Integrado de Gestão de Destinos Turísticos” (SIGESTur) no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Campus Cubatão). Assim, tenho buscado meios para aproximar ambas as realidades.
Compartilho a seguir uma síntese da proposta de implementação do SIGESTur na regão do Alto Tâmega e Barroso. O texto é fruto de reflexões iniciais e um olhar panorâmico sobre a sociedade, o mercado como um todo e, mais precisamente, o desenvolvimento turístico nesta área de abrangência.
Aproximação do SIGESTur com outros projetos regionais
A implementação do SIGESTur na região do Alto Tâmega e Barroso representa uma oportunidade estratégica para alavancar o potencial turístico local e promover o desenvolvimento sustentável de seus territórios. Esta região, rica em patrimônios naturais, históricos e culturais, insere-se em um contexto de baixa densidade populacional que, embora desafiante, oferece um espaço fértil para a inovação e o fortalecimento de práticas de gestão colaborativas.
Com base nas diretrizes do projeto, o SIGESTur tem o potencial de se tornar um catalisador para a capacitação dos operadores turísticos, o desenvolvimento de novos produtos e serviços, e o incremento da competitividade regional.
Um dos aspectos centrais do SIGESTur é a sua capacidade de integrar os diversos stakeholders da região, promovendo a cooperação entre os operadores turísticos, entidades públicas e privadas, e as comunidades locais. O turismo, enquanto setor estratégico para o Alto Tâmega e Barroso, exige uma abordagem coordenada que valorize os recursos endógenos, como a gastronomia, os vinhos, as paisagens naturais e os patrimônios culturais únicos de cidades como Chaves, Montalegre e Boticas.
O SIGESTur pode oferecer uma plataforma estruturada para que esses atores compartilhem informações, planejem iniciativas conjuntas e otimizem recursos, fomentando o desenvolvimento de um turismo mais inteligente e sustentável.
A região do Alto Tâmega possui um forte apelo rural e cultural que deve ser explorado de forma responsável, assegurando que o crescimento turístico beneficie diretamente as populações locais. Por meio do SIGESTur, será possível monitorar os impactos ambientais, sociais e econômicos das atividades turísticas, implementando ações corretivas quando necessário e garantindo que o turismo seja um vetor de desenvolvimento equilibrado.
O SIGESTur pode, também, desempenhar um papel vital no estímulo à inovação e à criação de novos produtos turísticos que valorizem os recursos locais. A gastronomia regional, como o vinho dos mortos de Boticas, o presunto de Chaves ou o cozido à barrosã, pode ser integrada a experiências autênticas que conectem o visitante à identidade do território.
Da mesma forma, o turismo de aventura e natureza, impulsionado por atrações como o Pena Aventura Park em Ribeira de Pena ou o Parque Nacional da Peneda-Gerês, pode ser potencializado com a criação de roteiros temáticos e a adoção de tecnologias inovadoras, como aplicativos para trilhas ou realidade aumentada. Essa diversificação de produtos ajudará a atrair diferentes perfis de turistas e prolongar a estadia média na região, aumentando o impacto econômico do setor.
A realização de um grande Fórum internacional, conforme previsto no projeto, será uma oportunidade ímpar para posicionar o Alto Tâmega e Barroso como referência em turismo sustentável e inovador. Esse evento poderá reunir especialistas, investidores e operadores turísticos, promovendo o intercâmbio de conhecimentos e boas práticas.
O SIGESTur poderá desempenhar um papel central na organização do Fórum, utilizando os resultados já alcançados para demonstrar as potencialidades da região e atrair novos parceiros e investimentos. Além disso, o evento poderá servir como um palco para divulgar os produtos e serviços desenvolvidos pelos operadores locais, ampliando sua visibilidade no mercado global.
Ao priorizar recursos endógenos e estimular a criação de redes colaborativas, o SIGESTur promoverá um crescimento inclusivo e sustentável, alinhado aos objetivos de coesão territorial e combate à desertificação. O foco no fortalecimento das Pequenas e Médias Empresas (PME) será fundamental para aumentar a competitividade regional e gerar valor econômico e social.
A operação proposta, alinhada com o Aviso NORTE-28-2018-04, tem como objetivo principal a valorização do Alto Tâmega enquanto destino turístico, utilizando seus recursos endógenos diferenciadores como pilares para consolidar uma oferta competitiva, integrada e sustentável.
O SIGESTur, enquanto ferramenta estratégica para a gestão turística, tem total capacidade de contribuir para o sucesso dessa iniciativa, sendo um motor essencial para a estruturação, promoção e monitorização do turismo na região. Com base nos objetivos e ações descritos, é possível argumentar que a implementação do SIGESTur será um passo determinante para potencializar os resultados da operação e assegurar a continuidade e eficácia do trabalho realizado.
A primeira ação, voltada para a elaboração do Plano Estratégico de Turismo do Alto Tâmega, exige uma análise aprofundada dos recursos endógenos da região, bem como a identificação e hierarquização de produtos turísticos. Nesse sentido, o SIGESTur pode fornecer as ferramentas necessárias para mapear e categorizar o potencial turístico local, integrando informações sobre recursos naturais, culturais e históricos em uma base de dados digital acessível a gestores e operadores turísticos.
Por meio de sua plataforma de gestão, o SIGESTur facilitaria a priorização de produtos turísticos de maior relevância e competitividade, como os ligados ao termalismo em Chaves, o turismo de natureza no Parque Nacional da Peneda-Gerês ou o turismo gastronômico associado aos vinhos e pratos regionais. Além disso, a capacidade analítica do SIGESTur pode apoiar a definição de diretrizes estratégicas, identificando tendências de mercado e ajustando o plano às necessidades dos públicos-alvo.
A segunda ação, que contempla a elaboração da Estratégia de Comunicação e Place Branding, beneficia-se diretamente das funcionalidades do SIGESTur, especialmente na organização de dados e na segmentação de mercados. A criação de uma marca territorial forte exige uma narrativa coerente que destaque a autenticidade e singularidade do Alto Tâmega, e o SIGESTur pode servir como base para consolidar essa identidade.
Com um levantamento detalhado e sistemático de dados e informações, o SIGESTur auxilia na definição de canais de comunicação eficazes e no desenvolvimento de campanhas direcionadas, assegurando que as mensagens cheguem ao público certo. Além disso, a integração de dados sobre preferências dos turistas e avaliações de experiências permite ajustar as estratégias de branding em tempo real, garantindo maior impacto e retorno sobre o investimento.
A terceira ação, voltada para o desenvolvimento de ferramentas e conteúdos promocionais, pode ser substancialmente aprimorada com o suporte do SIGESTur. A criação de materiais promocionais, como vídeos, fotografias e guias interativos, pode ser orientada por dados gerados pelo sistema, garantindo que esses conteúdos reflitam os produtos turísticos mais procurados e com maior potencial de mercado.
Destaca-se que o SIGESTur pode atuar como um repositório centralizado para esses materiais, facilitando o acesso por operadores turísticos e entidades públicas e promovendo uma divulgação integrada e coordenada do território. A criação de roteiros digitais, aplicativos interativos e mapas temáticos são apenas algumas das possibilidades que o SIGESTur pode viabilizar, alinhando-se à crescente digitalização do turismo e às expectativas de turistas conectados.
Na quarta ação, que abrange as iniciativas de promoção e divulgação, o SIGESTur se destaca como um aliado indispensável para planejar e executar eventos, campanhas e participações em feiras nacionais e internacionais. A plataforma pode fornecer insights valiosos sobre os mercados-alvo prioritários, ajudando a selecionar os eventos mais relevantes e adequados para a promoção do Alto Tâmega. Além disso, o SIGESTur pode ser usado para monitorar o impacto dessas ações, medindo indicadores de desempenho, como alcance de campanhas, número de visitantes atraídos e retorno financeiro gerado. Essa capacidade de mensuração permite ajustar continuamente as estratégias de promoção, maximizando os resultados e garantindo que os recursos sejam investidos de forma eficiente.
Um dos grandes diferenciais do SIGESTur em relação à metodologia apresentada na operação é a sua capacidade de garantir a continuidade e sustentabilidade das ações desenvolvidas. Embora as quatro ações descritas sejam módulos independentes, a implementação do SIGESTur cria uma estrutura integrada e permanente que facilita a execução das ações a longo prazo.
A centralização de informações, a automação de processos e a capacidade de gerar relatórios detalhados fazem do SIGESTur uma ferramenta que transcende a fase inicial do projeto, assegurando que os benefícios se prolonguem e se adaptem às mudanças do mercado e das prioridades regionais.
Outro ponto crucial é a contribuição do SIGESTur para o fortalecimento da governança turística na região. A operação proposta exige a articulação entre diversos stakeholders, como municípios, empresas privadas e associações locais, o que demanda uma estrutura de gestão eficiente.
O SIGESTur pode atuar como uma plataforma colaborativa, permitindo que todos os atores envolvidos no turismo do Alto Tâmega trabalhem de forma integrada, compartilhem informações e alinhem suas iniciativas. Essa abordagem colaborativa é essencial para evitar esforços duplicados, otimizar recursos e garantir que o turismo seja um vetor de desenvolvimento equitativo e sustentável para toda a região.
Em conclusão, o SIGESTur é uma ferramenta fundamental para o sucesso da operação de valorização do Alto Tâmega enquanto destino turístico. Sua capacidade de integrar informações, otimizar processos e promover a colaboração entre stakeholders posiciona-o como um recurso indispensável para alcançar os objetivos estratégicos delineados.
A implementação do Observatório do Alto Tâmega e Barroso, através da Infraestrutura de Dados Espaciais do Alto Tâmega (IDE-AT), configura-se como um marco estratégico para a gestão integrada do território e uma poderosa ferramenta para o desenvolvimento sustentável do turismo regional.
A IDE-AT, ao oferecer uma plataforma de partilha e gestão de informações em rede, é uma iniciativa fundamental para a modernização da governança regional, fomentando a colaboração entre diferentes atores e otimizando a utilização dos recursos endógenos do território. Nesse contexto, o SIGESTur, enquanto sistema de gestão turística, tem o potencial de atuar em sinergia com o Observatório, ampliando significativamente os impactos positivos do projeto.
O principal objetivo do Observatório é criar uma base de dados aberta e interoperável que atenda às necessidades de uma ampla gama de utilizadores, incluindo municípios, empresas, associações e o público em geral. Essa visão de gestão baseada em dados é perfeitamente alinhada com o propósito do SIGESTur, que utiliza informações detalhadas para planejar, monitorizar e promover o turismo de forma inteligente.
A integração do SIGESTur na IDE-AT permitirá agregar dados específicos sobre o turismo regional, como fluxos de visitantes, preferências de consumo, ocupação de alojamentos e avaliações de serviços, enriquecendo ainda mais a infraestrutura e fornecendo subsídios para decisões mais assertivas.
A política de dados abertos e a interoperabilidade da IDE-AT, baseada na Diretiva INSPIRE e nos padrões OGC, representa um avanço significativo para o turismo do Alto Tâmega e Barroso. Esses princípios facilitam o acesso a dados e a integração de sistemas, permitindo que o SIGESTur opere de forma mais eficiente e colaborativa. Outro ponto de destaque é o potencial do Observatório em promover a inovação e a competitividade regional.
A capacidade do SIGESTur de medir indicadores de desempenho, como pegada ecológica, impactos sociais e retorno econômico, será ampliada pela infraestrutura do Observatório, que fornecerá informações integradas de diferentes áreas do território.
A flexibilidade da IDE-AT, que se adapta às necessidades de diferentes utilizadores, também reforça a sua complementaridade com o SIGESTur. Enquanto o Observatório oferece uma visão ampla e integrada sobre o território, o SIGESTur pode atuar como uma ferramenta específica para o setor do turismo, extraindo e processando os dados relevantes para a promoção, planeamento e gestão de atividades turísticas. Essa complementaridade permite que ambos os sistemas se retroalimentem, otimizando os resultados e garantindo que as decisões sejam tomadas com base em informações precisas e atualizadas.
Em termos de benefícios práticos para os munícipes, a integração do SIGESTur ao Observatório também se traduz em maior transparência e participação cidadã. A política de dados abertos da IDE-AT permitirá que a população acesse informações sobre o turismo local, fortalecendo a confiança nas políticas públicas e estimulando a colaboração. O SIGESTur pode disponibilizar dados sobre eventos, atrações e serviços turísticos diretamente aos cidadãos, promovendo uma maior interação entre os residentes e o setor turístico.
Por fim, o Observatório do Alto Tâmega e Barroso, por meio da IDE-AT, cria as condições necessárias para a implementação de um modelo de gestão turística mais inovador, sustentável e inclusivo. Ao integrar-se ao SIGESTur, essa iniciativa ganha ainda mais relevância, ampliando seu impacto e criando um ecossistema de dados que beneficia gestores, empresas e comunidades.
A sinergia entre essas ferramentas assegurará que o turismo na região seja promovido de forma inteligente, equilibrando a valorização dos recursos locais com o crescimento econômico e a preservação ambiental.
Um forte abraço!
Sucesso sempre,
Aristides Faria